RSS
Status

tempos miseráveis?

19 nov

OEoM - Luiza Nasciutti - 26.jpg

sobre “Onde estão os miseráveis”

Espetáculo com encenação de Ariel Philipe e Andréa Terra que assina a dramaturgia do mais recente trabalho do Coletivo Bichos de Teatro de Niterói.

Por Fabio Cordeiro – Artista-pesquisador.

(Doutor em Artes Cênicas. Diretor da Nonata Cia. De Arte. Curador da NEL – Nonada Escola Livre)

 

Espetáculo volta ao palco em novembro no Teatro Popular Oscar Niemeyer

Depois de um longo trajeto de mais de três anos de processos criativos, o trabalho fez suas primeiras apresentações no Theatro Municipal de Niterói e volta a ser apresentado no Teatro Popular nos dias 21, 27 e 28 de novembro. Trata-se de um ótimo espetáculo, carregado de afetividades e senso crítico, que se inscreve com louvor na tradição dos musicais políticos brasileiros, como os realizados pelo Teatro de Arena e Oficina, desde a década de 60 e ainda hoje. “Onde estão os miseráveis” é belo e oportuno.

OEoM - Luiza Nasciutti - 04

A encenação do Coletivo Bichos de Teatro dialoga com a obra de Vitor Hugo ao mesmo tempo em que aborda criticamente a condição dos menos favorecidos no contexto brasileiro contemporâneo. A diferença que salta aos olhos em primeiro lugar é que se no século XIX as novas ciências sociais denunciavam o tratamento desumano que a industrialização impunha ao Proletariado (novo segmento social – pós-servidão), na atualidade o Precariado se impõe como continuidade da mesma lógica: escravidão, autoritarismo e violência como pedagogias da opressão para explorar a força física, submetendo a vontade e o pensamento do outro. A lógica da servidão se instaura nos corpos e nas mentalidades através do terror. Nesse sentido, notar as modulações de linguagem tanto na lógica autoritária como na democrática torna-se decisivo para o processo civilizatório brasileiro. A barbárie se impõe na manipulação dos signos. A cena que o espectador encontra em “Onde estão os miseráveis” reafirma a via coletiva como caminho de construção social e artístico. No espetáculo, essa perspectiva é desdobrada via coralidade, ora como cenografia de corpos organizados construindo imagens estáticas, ora como coreografias em momentos musicais (coletivos e solistas) onde a grande quantidade de artistas envolvidos ganha voz e ressonância na plateia. Na apresentação que presenciei foi visível o envolvimento emocional e a resposta vibrante dos espectadores, curiosamente em um Theatro construído no século XIX.

O espetáculo é repleto de procedimentos paródicos (do grego párodos: canto paralelo e passagem lateral para entradas e saídas do coro). A dramaturgia não faz uma paródia, mas Andréa Terra dispõe lado a lado a nossa realidade com o texto de Vitor Hugo, concluído três décadas depois da “Batalha de Hernani”, ocorrida na estreia em 1830 de seu texto “Hernani” (um não nascido, non-nata ou nonada). Naquela noite os espectadores aos berros e sopapos se dividiram entre classicistas e românticos, estes defendendo a estética moderna onde o gênio criador é senhor de suas escolhas, é sujeito que tem autonomia para ler o mundo e transformar suas leituras em obras inovadoras, livre das regras clássicas. A obra do escritor francês é bastante marcada pela figuração do “zé ninguém”, tal como o Woyzeck de Büchner ou os idiotas de Gógol e Dostoiévski.

“Onde estão os miseráveis” reafirma o sentido etimológico de plateia (do latim: local para batalhas) ao retratar através da teatralidade das formas corais o jogo perverso entre explorados (nonadas) e opressores (burgueses) de outrora e agora. O amigo-leitor tem muito a ganhar em sua leitura de mundo quando estiver na plateia como espectador da encenação do Coletivo Bichos de Teatro, um coro emancipado que nos interroga sobre nossos tempos miseráveis. Afinal, como se vê no título, não é necessário perguntar, todos sabem onde a miséria está e como ela se organiza para permanecer.

Mas até quando?

(Texto: Fabio Cordeiro. Fotos: Luiza Nasciutti. Realização: Coletivo Bichos de Teatro)

SINOPSE

Releitura do musical “Os miseráveis” com um olhar impactado pela dura realidade do nosso tempo. Acompanha a jornada de pessoas comuns para sobreviver, apesar de todas as dificuldades e injustiças sociais.

SERVIÇO

Onde estão os miseráveis

Gênero: Teatro musical

Temporada: 21, 27 e 28 de outubro, às 20h.

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: 16 anos

Ingresso: R $ 30,00

Onde: Teatro Popular Oscar Niemeyer. Rua Jornalista Coelho Neto, s / n. Telefone (21) 2613-2613.

 

EQUIPE DE CRIAÇÃO: “ONDE ESTÃO OS MISERÁVEIS”

 Encenação       Andréa Terra e Ariel Philippe

Dramaturgia     Andréa Terra

Dramaturgia musical         Pedro Lopes e Andréa Terra

Participação no argumento      Rafael Ferreira

Assistentes de direção     Aninha Pessa, Ariell Fonseca e Wesley Carneiro

Direção musical e preparação vocal         Dani Calazans (2017) / Alessandra Quintes (2018)

Assistente de direção musical e preparação vocal  André Grabois

Equipe de direção de arte         Ariel Philippe, Ariell Fonseca, Felippe Ronan, Jordana Corrêa, Julia Onofre, Lino Naderer, Mayra Barroso, Renato Pinheiro

Pianista             Ariel Donato

Concepção de iluminação        Ariel Philippe

Equipe de iluminação       Julia Onofre e Lino Naderer

Diretor técnico Silas Mendes

Operador de som     Leo Pecattu e Silas Mendes

Composições originais    Claude-Michel Schönberg

Assessoria de imprensa           Matheus Zanon

Elenco

Ana Paula Figueiredo

Aninha Pessa

Andréa Terra

Ariel Philippe

Ariell Fonseca

Bianca Pontes

Bianca Paysan

César Salomão

Erika Mourão

Felippe Ronan

Flavio Trolly

Fraya Hippertt

Jen Mou

Jordana Corrêa

Kamylla Duarte

Lino Naderer

Luan Zhaski

Luis Felipe Dormow

Nathalia Rodrigues

Renato Pinheiro

Solange Electo

Thomás Rodrigues

Thuane Ribeiro

Wallace Farias

Wesley Carneiro

Withe Vianna

Produção executiva Coletivo Bichos de Teatro

Produtores encarregados        Julia Onofre, Deilza Santos e Mateus Pessa

 
Deixe um comentário

Publicado por em 19 19America/Sao_Paulo novembro 19America/Sao_Paulo 2018 em PRIMEIRO CADERNO

 

Deixe um comentário